sábado, 1 de janeiro de 2011

Meu casaco de europeu

Num belo dia, vc percebe que não é mais criança. Que seus passos são um pouco mais firmes. Que já não pode ter mais medo de certas coisas. Quando eu visto meu casaco negro, tudo se transforma. Não se brinca com estética no velho mundo. O feminismo causou alguns estragos aqui. Salvo as evidentes transformações na hierarquia entre os generos e a inserção crescente das mulheres em melhores lugares na dimensão da produção, o que resta é estranho.

Como o mundo não é divido em nações, mas em classes, é apenas uma questão de tempo que certos comportamentos pós-vanguarda 68 se tornem padrão em um país como o Brasil. A classe média das grandes capitais brasileiras já se torna suporte deles. As cores cinzentas, típicas de civilizações que vivem a maior parte de seu tempo no frio, como percebeu há tempo Gilberto Freyre, não impede que as pessoas aqui tenham sentimentos e emoções fortes. É possível sentir o calor humano no frio. É preciso se proteger do frio, mas não do calor das pessoas.

Entretanto, todos temos nossas avaliações sobre os outros. Alguns mitos do nacionalismo metodológico dominante nas ciencias sociais começam a cair por terra, quando observamos com calma a rotina e o comportamento do povo alemão. Numa cidade pequena como Freiburg, há pessoas de várias origens culturais. O contato inter cultural inicial suscita algumas questões curiosas. É difícil não ser identificado com o samba quando se diz que se é do Rio de Janeiro. Logo, visto meu casaco de europeu. Eles também sambam, ainda que com muita roupa, e eu gosto de rock.

Outro dia alguém me pediu pra tocar um beatles no violão, e depois 'garota de ipanema'. Fiquei devendo a segunda e não faço questão de pagar. Este nacionalismo não vale a pena. Apenas representa a elite tupiniquim em todo o seu particularismo. Logo, visto meu casaco de europeu.

No contato entre os generos, talvez consigamos enxergar ainda mais certos mitos. A sexualidade brasileira é exaltada como mais despojada e feliz. Prato cheio para o estigma da animalidade. Não é difícil ver por aqui a animalidade humana em sua dimensão mais primitiva, a do amor, em plena evidencia. Entretanto, um dos mitos do nacionalismo nos diz que isso é peculiaridade dos trópicos. Logo, visto meu casaco de europeu.

3 comentários:

  1. Fabrício, de que vc fala quando diz dos estragos causados pelo feminismo?

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  2. cara adélia,

    os generos hoje podem competir cada vez mais de igual p igual, principalmente na classe média, com seu capital economico. com isso, o jogo do amor se torna cada vez mais calculado economicamente e menos espontaneo...

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  3. Meu nobre amigo Fabrício. Fico orgulhoso em ver que mesmo com a mudança drástica nos costumes do seu dia-a-dia você mantenha o hábito profundo e amoroso de escrever em seu blog. Eu também tenho um agora, gostaria muito que você debruçasse suas críticas e atenção às minhas idéias e poesias, sua opinião sempre foi importante. Link:ovoouagalinha.blogspot.com.
    Artigos que recomendo: Gravatas do Planalto - Teoria da Inteligência Primeira Interconectada - Anjo & Demônio (muito bom) - Desabafss (já mandei pra vc) - Cat City (duvido vc descobrir o motivo do título) - Habeas-Pinho. Espero sua visita. Acabei de assinar seu blog. Aguardo mais posts, sempre que dispuser de tempo. Um grande abraço do seu admirador e amigo.

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